Vem ver, Lucimar A noite como está linda Eu não tinha visto ainda Aquela estrela brilhar Vem ver, Lucimar A noite como está linda Eu não tinha visto ainda Aquela estrela brilhar Eu vou cantar um trabalho Não vou cantar razoeira Cantar pra o povo ouvir Pra a sociedade inteira Vou falar sobre um rapaz Que mangava de caveira Vem ver, Lucimar O meu pai sempre dizia Que, às vezes, o homem é chato Toma cana, se embriaga Joga fortuna no mato Que o homem pratica o crime Pra depois pagar o pato Vem ver, Lucimar Morava numa cidade Um tal de Zé da Piada Que tinha um filho solteiro Todo cheio de palhaçada E o povo já te chamava O capeta da risada Vem ver, Lucimar Era de uma qualidade Que no canto que chegava Se fosse pra uma festa No lugar que ele habitava E se chegava numa missa Com três risadas, acabava Vem ver, Lucimar O seu pai sempre dizia Meu filho, não tem proveito Mangando de todo mundo Isso eu num tô satisfeito Como é que você se cria Tão safado desse jeito? Vem ver, Lucimar Ele dizia: Papai! Ninguém tira meu valor Tomo cana, faço crítica Nem me importa, com amor Tô grande, faço o que quero E dar banana pro senhor Vem ver, Lucimar Aí o rapaz criou-se Não parecendo ser gente Mangando de todo mundo Era seu prazer, somente Mas deixa, que o café dele Tava fervendo na frente Vem ver, Lucimar Então o rapaz vivia Na farra, na bebedeira Mangar de padre de missa De terço e de rezadeira Mas um dia ele lascou-se Nas unhas de uma caveira Vem ver, Lucimar Ele estava numa venda Tomando uma misturada Quando olhou, viu um enterro Ele deu uma risada Disse: Eu vou olhar de perto Ver se é solteira ou casada Vem ver, Lucimar Chegou perto do enterro Só um chorando ele viu Ele disse: Dê licença O defunto descobriu Quando ele viu o defunto Deu um pinote e sorriu Vem ver, Lucimar Um homem lhe respondeu Fazer assim não convém Respeite, que o caso é sério Você vai morrer também O capeta perguntou Quantos chifres é que ele têm? Vem ver, Lucimar Ali ninguém deu ouvidos À pergunta do rapaz Disseram, puxem o caixão Com lágrimas sentimentais Era um chorando na frente E o capeta rindo atrás Vem ver, Lucimar Entraram no cemitério O capeta acompanhou Deixou o caixão com o povo Pra outra cova ele olhou E foi mangar de uma caveira Noutra cova que encontrou Vem ver, Lucimar Quando ele viu a caveira Foi logo se divertindo Começou jogando pedra A pedra saía zunindo Era arrodeando a cova Dando pinote sorrindo Vem ver, Lucimar Foi dizendo pra caveira Eu quero ver tu falar Quantos anos têm de morta? Ou morrestes sem casar? Que tu, sem me dizer nada Tá ruim pra eu adivinhar Vem ver, Lucimar Deu um baque na caveira Que a caveira estremeceu E disse: Não há quem conte Quantas canas isso bebeu Se quer ir tomar uma agora Vamo, quem paga sou eu Vem ver, Lucimar Ele pegou embolando A caveira pelo chão Começou jogando praga Dando tapinha de mão E dizendo: Caveira eu sei Que tu foi da raça de cão Vem ver, Lucimar Ainda disse pra caveira Quem butou você aqui? Quantos anos têm de morta? Se é da terra que eu nasci? Porque feia igual a tu Nesse mundo eu nunca vi Vem ver, Lucimar Ficou mexendo com ela Pegou fazendo zoada Também fazendo careta Dizendo coisa engraçada Que uma murrinha dessa Vai me matar de risada Vem ver, Lucimar Deu tchau pra caveira e disse Tá chegada a minha hora Mas se quiser tomar uma Vamos comigo lá fora Eu pergunto e tu não fala Te lasca que eu vou me embora Vem ver, Lucimar Ele disse pra caveira Fica aí, na solidão Se você quer uma cana Aproveita a ocasião Que eu estou lhe esperando Na passagem do portão Vem ver, Lucimar Ele parou num boteco Disse: Bote uma caninha O cara encheu o copo O gota bebeu todinha E viu o grito da caveira Só sai se pagar a minha Vem ver, Lucimar Quando ele viu a caveira Com aquele buruçu Danou o copo na mesa E não pagou nem a Pitú E disse: O diabo é quem espera Pra beber cana mais tu Vem ver, Lucimar O capeta fez carreira E a caveira acompanhou De passo em passo gritava Me espera, que eu também vou O capeta com tanto medo Que até de sorrir parou Vem ver, Lucimar O capeta ainda disse Aquilo foi brincadeira Ela disse: É pra você Não mangar mais de caveira O capeta disse: Agora Vai ser minha derradeira Vem ver, Lucimar Ele entrou numa mata Que só tinha calumbi Se escondeu-se numa moita Disse: Ela voltou dali A caveira disse: Besta Faz tempo que eu tô aqui Vem ver, Lucimar Quando ele viu a caveira Embolando feito um ovo Ele disse: Tá ruim Meu problema eu num resolvo Deu um baque na caveira E começou correr de novo Vem ver, Lucimar Na frente tinha uma casa Numa mata desprezada Ele entrou, fechou a porta E disse: Aquela malvada Não vai saber que eu estou Nessa casa abandonada Vem ver, Lucimar Com pouco tempo ele viu Uma coisa se arrastando Era uma coisa que vinha Do quarto se aproximando Dizendo: Faz mais de horas Que eu tô aqui te esperando Vem ver, Lucimar Quando ele viu a caveira No momento conheceu O seu medo foi tão grande Que o corpo todo tremeu Pendurou-se numa ripa Pulou a porta e correu Vem ver, Lucimar O capeta fez carreira Pelo uma serra que tinha Na frente ele viu um forno De uma casa de farinha Disse ele: Eu vou me esconder E me livrar daquela tinha Vou me esconder Entrou debaixo do forno Parecendo um marginal A caveira, pelo suspiro Entrou no mesmo local Bateu na bunda dele e disse Foi bom, que chegamos igual Vem ver, Lucimar Na frente tinha um pé de coco Daquele coqueiro baixo Ele se trepou em cima E se pendurou num cacho Disse: Eu vou lascar um coco Na cabeça dela, embaixo Vem ver, Lucimar Quando ele ia no meio Viu as folhas se bulir A caveira disse venha Que eu tô te esperando aqui O capeta pulou e disse O diabo é quem vai pra aí Vem ver, Lucimar Na frente tinha uma cerca Rodeada de bambu O capeta disse: Agora Eu vou me esconder de tu Entrou e ficou debaixo De um grande pé de cajú Vem ver, Lucimar O capeta ainda disse Ôh, canto bom eu achei Tenho certeza que ela Não viu por onde eu entrei A caveira disse: Trouxa Faz é tempo que eu cheguei Vem ver, Lucimar Na frente tinha um riacho Com muita água a correr O capeta disse: Agora Nessa ponte eu vou descer Que eu debaixo da ponte Ela passa e não me vê Vem ver, Lucimar O capeta ainda disse Esse canto é bom, que eu acho Quando olhou, foi a caveira Pinotar da a ponta embaixo Dizendo: Eu nunca pensei De tomar banho de riacho Vem ver, Lucimar Quando ele viu a caveira Ficou bastante assombrado Mergulhou num porão fundo Dizendo: Eu tô acabado Só sei dizer que o capeta Findou morrendo afogado Vem ver, Lucimar A caveira disse: Agora Tu não manga de ninguém Tu vai lá pra o cemitério Que lá tem lugar pra cem Tu mangaste de caveira E já soi caveira também Vem ver, Lucimar Disse a caveira: Se alguém Perguntar quem te matou Você diga: Foi a língua Pelo mau que praticou E o que eu queria já fiz Te lasca que eu já me vou Vem ver, Lucimar A noite como está linda Eu não tinha visto ainda Aquela estrela brilhar Vem ver, Lucimar Olhar a noite como está linda Eu não tinha visto ainda Aquela estrela brilhar Vem ver, Lucimar A noite como está linda Eu não tinha visto ainda Aquela estrela brilhar Vem ver, Lucimar E a noite como está linda Eu não tinha visto ainda Aquela estrela brilhar Vem ver, Lucimar