Ja são dez horas da manhã E eu cheguei aqui as nove Estou uma hora preocupado com as poças Que se formam quando chove Ja vai a chuva e o sol ja vem Com o seu brilho todo belo E eu comum mortal Como uma estatua de um pobre magricelo Encarcerado na parada do busao Sao onze horas da manha E eu to ficando preocupado Faz duas horas e eu sentando nesse banco Me sentindo um aleijado E me cutuca um ancião Com uma cara de mendigo "Você chegou aqui as nove E eu cheguei quando era jovem, meu amigo" A paciência e a arma da multidão E chega o esplendor daquele ônibus maldito E chega o cobrador com aquela cara de exibido E vem o povo atras com aquele ar de espremido E chega o de menor vendendo bala e pirulito "Eu to vendendo a minha alma Por um trago de cultura pra eu ficar legal Eu to vendendo, olha, não tá cara Que hoje o preço da cultura e três por um real" Então se me permite eu vou fazer uso do meu ofício de poeta Para formular uma crítica um pouco menos discreta A merda não resolve porque tem muita gente com o rabo preso E so libera o rabo quando quer se divertir O problema é comum Mas cada um So quer tirar o seu bumbum da reta E tudo uma questão de uma politica pública De introdução anal a qual o povo é submetido E a gente tá com sono mas o clã tá acordado E a gente vai pagando três reais para ser humilhado Na parada do Busão.