Carlos Tê

Bairro do Oriente

Carlos Tê


Tenho à janela
Uma velha cornucópia
Cheia de alfazema
E orquídeas da Etiópia

Tenho um transistor ao pé da cama
Com sons de harpas e oboés
E cantigas de outras terras
Que percorri de lés-a-lés

Tenho uma lamparina
Que trouxe das Arábias
Para te amar à luz do azeite
Num kamasutra de noites sábias

Tenho junto ao psyché
Um grande cachimbo d'água
Que sentados num canapé
Fumamos ao cair da mágoa

Tenho um astrolábio
Que me deram beduínos
Para medir no firmamento
Os teus olhos astralinos

Vem, vem à minha casa
Rebolar na cama e no jardim
Acender a ignomínia
E a má-língua do código pasquim
Que nos condena numa alínea
A ter sexo querubim