Quando vejo um piazito montado sobre um cavalo Lembro o primeiro regalo que tive na minha infância Um potro recém parido se afirmando nos cambitos O presente mais bonito que eu ganhei quando criança Ali mesmo na cocheira meu pai disse escolha um nome Na pureza de um menino eu segui meu coração Disse obrigado meu pai, abracei meu cavalinho Falei firme com carinho: O nome dele é guardião Alazão pêlo lavado e gateado nas canelas Meu potro virou cavalo, se tornou o xodó das éguas E eu no lombo era um centauro Pra delírio das donzelas E eu no lombo era um centauro Pra delírio das donzelas Logo ficou bom de dorso, cavalo de doma fácil Meu velho se encarregou de preparar o guardião A firmeza e a confiança, sua marca de domador Foi por isso que ficou de valor meu alazão Cresci na volta da estância no lombo desse cavalo Tirando e botando pealo, na lida virando homem O causo fica mais sério e ganha até ares de lenda Quando chegou na fazenda o boi chamado lobisomem O bicho era endiabrado quando pisou no gramado Descambou ladeira abaixo se enfiando no macegão Numa investida violenta soltando bafo das ventas Levou nas guampas uma cerca e se empenhou lá no capão A peonada pavorou-se e o boi berrando no mato Era assustado de fato e eu tinha que honrar meu nome Botei a bota no estribo e caí de rédeas na mão E falei pro guardião: Vamos encarar o lobisomem Alazão pêlo lavado e gateado nas canelas Meu potro virou cavalo, se tornou o xodó das éguas E eu no lombo era um centauro Pra delírio das donzelas E eu no lombo era um centauro Pra delírio das donzelas Era muito desaforo o bicho naquele berreiro Eu falei pros companheiros vou buscar, pouco me custa Vou tirar o bicho do mato à pranchaço de facão Montado no meu guardião nada no mundo me assusta Meu cavalo estava estranho como quem já pressentia Era uma tarde fria, o minuano cortava o rosto Desconfiado dei de rédea e descemos pela canhada Não sabia o que esperava naquela tarde de agosto Foram quase duas horas de peleia com o bandido Meu cavalo foi ferido bem na tala do pescoço O meu amigo sangrando e a guampa do boi vermelha Me olhando trocando orelha, babando e mugindo grosso Tirei o boi do mato, mas perdi o meu cavalo Nunca esqueço aquela tarde quando o Sol se avermelhou O meu amigo de infância, seu relincho silenciava Despedi do guardião e o meu coração chorou Alazão pelo lavado e gateado nas canelas Meu potro virou cavalo, se tornou o xodó das éguas E eu no lombo era um centauro Pra delírio das donzelas E eu no lombo era um centauro Pra delírio das donzelas Às vezes na madrugada, no silêncio da vigília Quando tudo silencia escuto a grama amassando Ouço barulho de estribo, rédeas arrastando no chão É a alma do guardião que anda por aí pastando Porque um amigo de infância visita o outro de vez em quando Alazão pelo lavado e gateado nas canelas Meu potro virou cavalo, se tornou o xodó das éguas E eu no lombo era um centauro Pra delírio das donzelas E eu no lombo era um centauro Pra delírio das donzelas