Bom dia: eu dizia à moça que de longe me sorria. Bom dia: mas da distância ela nem me respondia. Em vão a fala dos olhos e dos braços repetia bom-dia a moça que estava de noite como de dia bem longe de meu poder e de meu pobre bom-dia. Bom-dia sempre: se acaso a resposta vier fria ou tarde vier, contudo esperarei o bom-dia. E sobre casas compactas sobre o vale e a serrania irei repetindo manso a qualquer hora: bom dia. Nem a moça põe reparo não sente, não desconfia o que há de carinho preso no cerne deste bom-dia. Bom dia: repito à tarde à meia-noite: bom dia. E de madrugada vou pintando a cor de meu dia que a moça possa encontrá-lo azul e rosa: bom dia. Bom dia: apenas um eco na mata (mas quem diria) decifra minha mensagem, deseja bom o meu dia. A moça, sorrindo ao longe não sente, nessa alegria, o que há de rude também no clarão deste bom-dia. De triste, túrbido, inquieto, noite que se denuncia e vai errante, sem fogos, na mais louca nostalgia. Ah, se um dia respondesses Ao meu bom-dia: bom dia! Como a noite se mudara no mais cristalino dia!