De manhã a vender na Avenida, ou à tarde nas ruas da Baixa está o cauteleiro a gritar que há horas na vida à carteira de que não tem pão porque não tem dinheiro. Tantos contos que são a taluda, tantas notas sonhadas só ele as atira p'ra o ar. Já que a sorte da gente não muda, que tristeza termos de pensar isto vai a jogar. Quinze mil quatrocentos e tres. Nove mil trezentos e dez. Mas o mal que o dinheiro nos fez durante a vida toda... Amanhã não anda a roda! Um bilhete que sabe a desgraça, uma vida passada à espera da terminação. Mas o cauteleiro é que passa, a má sorte jogada no duro da aproximação. A voz lenta apregoa a cautela, esperança louca de quem nunca teve uma nota na mão. Mas a sorte também tem com ela a miséria de quem fez do jogo o seu ganha-pão. Quinze mil quatrocentos e tres. Nove mil trezentos e dez. Mas o mal que o dinheiro nos fez durante a vida toda... Amanhã não anda a roda!