Meu teto tem sido o céu, minha cama tem sido o chão Minha dama é a rua, minha casa é a sua Meu trabalho é pedir o meu banco, meu chapéu A sola do meu sapato, o meu calcanhar rachado Minhas paredes os quatro ventos, sou você mais um rebento Melhor diversão não há que banhar na praça pública O farol vai se fechar, minha esmola vai chegar Peço, e quando peço, arredam os passos, vai trabalhar, vai trabalhar Como pode viver alguém sem o acalanto de um lar Sobrei na sociedade, desviei da sobriedade Açaí, me de um copo, restaurante me resta a sobra Moro na rua e canto tom jobim Bebam o gole que desce em mim Já tive fazenda, já fui doutor Veio a vida e me levou Meus filhos para os quais me dei se envergonham de ter um pai Minha mãe vê em mim, desgosto demais A essa noite fria eu respondo muita cachaça A moça bonita que passa fantasio e acho graça Mudei meu endereço, rua sem nome, número zero Anteontem ganhei um terno pro meu velório ou casamento Um sapato um violão, viram em mim algum talento Sigo esperançoso, a vida que pra uns é um gozo É, mas só eu sei do azedo desta comida, vida e morte, morte e vida Como pode viver alguém sem o acalanto de um lar Sobrei na sociedade desviei da sobriedade