O vento chega, sopra seco e afiado Vem batendo tão pesado, quer nocautear a noite Dos quartos saem gemidos disfarçados E arranha-céus desesperados Apontam pra barriga da noite Noite, talvez pelo seu tamanho Me faz sentir um corpo estranho Não lhe posso pertencer Noite, eu lhe adoro e lhe detesto Mas me conformo com o seu resto O dia que vai nascer Carros possuem olhos sempre acessos Atropelam qualquer medo, buzinando nos ouvidos da noite Mendigos com seus passos vagabundos De remorsos tão profundos, cospem na cara da noite Noite, talvez pelo seu tamanho Me faz sentir um corpo estranho Não lhe posso pertencer Noite, eu lhe adoro e lhe detesto Mas me conformo com o seu resto O dia que vai nascer Gritos, cortam o peito do silêncio Murmúrios de nervos tão tensos Ecoam na calada da noite Prostitutas de insônia atrevida Com corujas escondidas Em baixo das saias da noite Noite, talvez pelo seu tamanho Me faz sentir um corpo estranho Não lhe posso pertencer Noite, eu lhe adoro e lhe detesto Mas me conformo com o seu resto O dia que vai nascer Chuva de água mole em pedra dura Viaja em nuvens tão escuras Urinando na boca da noite Cães vadios rosnam por sua fatia E vingam sua hidrofobia, Mordendo as pernas da noite Noite, talvez pelo seu tamanho Me faz sentir um corpo estranho Não lhe posso pertencer Noite, eu lhe adoro e lhe detesto Mas me conformo com o seu resto O dia que vai nascer