Nasci num lugar que virou favela Cresci num lugar que já era Mas cresci a vera Fiquei gigante, valente, inteligente Por um triz não sou bandido Sempre quis tudo o que desmente esse país Encardido Descobri cedo que o caminho Não era subir num pódio mundial E virar um rico olímpico e sozinho Mas fomentar aqui o ódio racial A separação nítida entre as raças Um olho na bíblia, outro na pistola Encher os corações e encher as praças Com meu guevara e minha coca-cola Não quero jogar bola pra esses ratos Já fui mulato, eu sou uma legião de ex mulatos Quero ser negro 100%, americano Sul-africano, tudo menos o santo Que a brisa do Brasil beija e balança E no entanto, durante a dança Depois do fim do medo e da esperança Depois de arrebanhar o marginal, a puta O evangélico e o policial Vi que o meu desenho de mim É tal e qual O personagem pra quem eu cria que sempre Olharia Com desdém total Mas não é assim comigo É como em plena glória espiritual Que digo Eu sou o homem cordial Que vim para instaurar a democracia racial Eu sou o homem cordial Que vim para afirmar a democracia racial Eu sou o herói Só Deus e eu sabemos como dói