Sinto saudade da roça lá da fazenda alvoarada Tinha um piquete pequeno atrás da nossa morada Era um pedaço de pasto que eu fiz da invernada Ali eu tinha um cavalo e uma vaca maiada E um cercado de vara Feito de pau e taquara eu prendia as galinhadas. O nosso grande xodó era a vaca maiada Dava leite pras crianças e a sobra era guardada Do leite grosso saia o requeijão e a coalhada Mamãe fazia manteiga saborosa e amarelada Fazia num panelão Depois passava no pão ainda quente da fornada. Mais um dia essa fazenda um outro rumo tomou Foi negociada e vendida e gente nova chegou E novo fazendeiro com a vaca implicou Eu não quero ver mais nada e o cercado derrubou Pra nossa maior tristeza Com seu poder de riqueza a nossa vaca comprou. O açougueiro da cidade chegou com o seu carroção Amarrou nossa maiada naquele velho mourão O meu pai pediu pra nós se afastar do mangueirão Que uma cena de violência ia rolar nesse chão Eu corri pra me esconder Só escutamos ela gemer a risada do patrão. Meu pai tentou impedir, veja o que disse o patrão Preciso de gente nova que acompanha a evolução E você tá despedido não tenho mais precisão O meu pai então disse adeus pra aquele ingrato patrão Saímos de madrugada Eu, o pai e mãe na estrada, fomos deixando seu chão.