Depois de passar pelas curvas da vida Cheguei rastejando na reta final Pra tirar do peito a saudade doída Resolvi rever o meu berço natal Passei por chapadas, riachos e serras Por velhos caminhos que não esqueci E sentindo cheiro de mata e terra Cheguei no recanto onde eu nasci Não vi o angico na beira da estrada Da antiga porteira só vi o mourão Da casa que foi minha velha morada Só vi seus esteios caído no chão Vi risco de lodo na areia branca Mostrando que a água da mina secou Encontrei pedaços de uma retranca Do manso tordilho que a morte levou No pé no palanque que o tempo tombou Na terra pisada que foi o mangueiro Vi marcas profundas que laço deixou Tropeando potro e boi pantaneiro E quase coberta por relva e cipó Do carro de boi encontrei o cocão Pedaços de ajoujo que foram sem dó Trelando saudade em meu coração Sentado no resto de um velho cocho A vida passada eu fiquei relembrando Olhando as flores de um ipê roxo Senti na garganta um nó apertando Uma nuvem de pranto foi tão inimiga Turvou minha vistas sem ter piedade Eu fui pra matar a saudade antiga E voltei trazendo uma dupla saudade