Aconteceu comigo algumas vezes Mas duas delas foram bem diferentes Naquela época eu só bebia naquele bar Era um tipo de drive em que as pessoas podiam comer e beber Enquanto lavavam seus carros Muito estranho né? O mais estranho é que eu não saia de lá Alguns amigos meus também, todo mundo se chapando Sábado principalmente! Todos ainda tínhamos empregos normais, horários normais E ficávamos a semana inteira pra chegar o fim de semana De alguma coisa diferente acontecer e nada acontecia E de repente já era domingo de noite E batia a maior tristeza e frustração que alguém poderia ter A ideia de começar uma semana, uma mês, um ano E saber que vai ser a mesma coisa de sempre E que não havia saído do maldito lugar onde eu estava Voltando pra história do bar Eu sentava numa mesa de frente pra rua E ficava olhando pessoas feliz e tristes passarem Uma vez um casal, nem feliz e nem triste Estava passando do outro lado da rua E atravessou em minha direção Me olhando profundamente, como se me conhecesse E nesse momento um carro atropelou o casal Eu gritei com muita força e desespero Ao mesmo tempo em que notei que o casal não existia A não ser na minha cabeça, o carro existia, mas não parou Até hoje não sei se vi fantasmas ou foi alucinação Isso aconteceu em Passo Fundo, no final da década de 90 A outra, como eu disse foi bem diferente Foi em outro lugar e outro momento Na época pintaram os alucinógenos e eu tava dentro Eu queria experimentar qualquer tipo de distorção da realidade Minha filha tinha acabado de nascer E eu não sabia o que fazer com minha vida Me sentia muito fraco pra suportar tudo aquilo E tudo aquilo era muito pra minha cabeça de 17 anos A casa onde eu morava e, principalmente, meu quarto Não ajudavam em nada, muito escuro e escondido E entravam e saíam todo tipo de pessoas possíveis E a maioria delas eu não queria que estivesse ali Tamanho era o meu torpor Às vezes eu me perguntava Como era possível morar num lugar daqueles Sem me dar conta de que eu era o único morador Mas nunca me senti sozinho Mesmo quando não havia ninguém, eu não estava sozinho Meu maior problema era o sono Quando eu ia dormir, eu não conseguia descansar Todo tempo em que eu estava naquele lugar Eu me senti muito pesado, carregado e isso nunca aliviava Meus sonhos também estavam muito confusos E estava difícil separar eles da vida real Me sentia sufocado enquanto dormia E cansado e fraco, quando acordado Até hoje não sei se eram espíritos Ou era só loucura Isso aconteceu em Uberlândia No começo da década de 90 Paz e amor