No sertão, sob o sol da Borborema. Numa terra regada a pedra e osso O lagarto equilibra seu pescoço Com a cauda apontando a parte extrema O seu corpo parece um teorema De incógnitas perdidas na paisagem Há um corte suspenso nessa imagem Vertical, fura o Jabre as nuvens raras. Batizado nas águas do Espinharas Zé Limeira parece uma visagem. Apesar de sertão o clima é frio Frio e seco como soi acontecer Nessa terra em que a vida quer nascer E só nasce vencendo um desafio: O verter-se em esforço no vazio Que abomina, assustando a floração. Dessa forma estrangula o seu pulmão Com as garras astutas de um tridente (a esmola na cuia do indigente) Zé Limeira transforma pedra em pão Para o frio noturno e o sol diário Indumentos que imitam passarinho Variando da mescla para o linho E alpercatas cruzando o pó calcáreo (Uma orquídea vestida em um sudário; uma túnica sobre os mandacarus) Macambira cruzada com umbus, Resistentes espécies da secura Água/sal versus rocha/rapadura Zé Limeira vencendo os urubus. Se o passado contasse verdadeiro O olhar de quem olha saberia Que há bilhões de instantes não havia Um lugar sem brasão e sem letreiro Sobre o qual há carcaças no terreiro E Reis Magos são quadro empoeirado Mas um Astro Cadente iluminado Se aloja tal/qual um caranguejo A suar no mormaço sertanejo Zé Limeira é o Verbo Anunciado Pare o tempo, o vento, o mundo inteiro, As espécies, os bichos, as vontades. Pare o mal e parem as maldades Pare o bem, o bom. Pare o luzeiro Que alumia e que queima o juazeiro, Pare a força dessas contradições, Pare a regra geral das ilusões E a caldeira que energiza tudo Pois do alto do céu vem um entrudo Zé Limeira puxando seus cordões!