Nas minhas costas carrego o dolo do meu passado E trago escrito na pele a história do meu destino Nas minhas veias turvas deambulou sangue irado E neste peito a saudade badalou como num sino Nos olhos probi a cor, viram só preto e branco E desta boca a peçonha tresandou como num charco O teu cheiro guardei nos dedos como um troféu cintilante E o fastio deste ventre avolumou num fardo Se eu encetar este caminho, depositando na fé Fé de que vou, por fim, o azul abraçar Será que as portas deste céu, no alto do seu altar Mesmo sabendo quem eu sou, assim me deixarão passar? Acendam a chama Que pega o fogo Que queima meu corpo Sem alma... Vivo, mas morto Lanceto a carne por dentro cavando um meigo aconchego Fazendo daí o recanto para o meu porto de abrigo Desapareço a correr, vendo sem nunca alcançar Todo o meu tino que me escapa fugindo num galhofar Na má sina do meu fado o choro é quem ganha espaço E o tempo todo deste mundo nas minhas mãos a findar A cruz é mesmo tão pesada e o esforço é muito o que faço Vivo ou morto, o que mais eu quero é não mais cá querer ficar Se eu encetar este caminho, depositando na fé Fé de que vou, por fim, o azul abraçar Será que as portas deste céu, no alto do seu altar Mesmo sabendo quem eu sou, assim me deixarão passar? Acendam a chama Que pega o fogo Que queima meu corpo Sem alma... Vivo, mas morto