Fiz uma aposta, senhores Ou de perder ou de ganhar Dormir com D. Mariana Ai, filha do Conde Real Não apostes, ó meu filho Ai, que tu não hás de ganhar Dona Mariana é muito séria Ai, de ti não se deixa enganar Vestiu-se em traje de donzília E tratou de caminhar Chegando ao meio da praia Ai, começou a passear Que donzília é aquela Ai, que anda além a passear? Ai, eu sou donzília, senhora Ai, eu sou donzília do mar Tenho a minha teia urdida Ai, fiado venho buscarte Avie-me lá, ó senhora Ou trate de me aviar Que o caminho é muito longe Não me posso demorar Ai, pode vir algum mocito Ai, que de mim queira zombar Que donzílias fora de horas Não é bonito andar Cala-te aí, ó donzília Não te estejas a difamar Cala-te aí, ó donzília Ai, que ao meu quarto virás ficar Lá pela noite adiante Dona Mariana quis gritar Cala-te, Dona Mariana Não te estejas a difamar Que eu não sou donzília nenhuma Ai, sou D. Carlos d’Além-Mar Só te peço, ó D. Carlos Que à praça não te vás gabar Ai, se o meu pai vem a saber Ele me mandará matar Ele logo no noutro dia À praça se foi gabar Dormi esta noite cuma menina Ai, tão branquinha como um cristal Era Dona Mariana Ai, filha do Conde Real Seu irmão, que isto ouviu A seu pai veio logo contar Mande matar Mariana Ai, que se deixou enganar Confessa-te, ó Mariana Ai, ou trata de te confessar Ai, amanhã por esta hora Ai, o sino há-de dobrar Não haverá algum ganhão Que o meu pão queira ganhar Ir levar uma cartinha Ai, ao D. Carlos d’Além-Mar? Desceu um anjo do Céu à Terra Escreva lá, minha menina Ai, ou depressa ou devagar Caminho que se anda em trinta dias Numa hora se há-de andar Se ele estiver almoçando Deixe-o acabar de almoçar Se ele andar passeando Vai-la logo entregar Ó D. Carlos, ó D. Carlos Ó D. Carlos d’Além-Mar Uma menina que vós teis Não a deixes mandar matar Não tenho menina nenhuma Ai, que eu deixe mandar matar Só se é Dona Mariana Ai, filha do conde Real Pois é mesmo essa menina Que vai amanhã a enforcar Alto, alto, ó meus criados Os que estão ao meu mandado Vão ferrar os meus cavalos Do bronze mais alastrado Do bronze mais alastrado Que até a calçada há-de estalar Caminho que se anda em trinta dias Numa hora se há-de andar Vestiu-se em traje de frade E tratou de caminhar Chegando lá mais adiante Ai, a justiça encontrara Arreda, ó justiça, arreda Ou trata de te arredar A menina que aí levam Ela vai por confessar No princípio da confissão Um abraço lhe quis dar Arreda-te, ó frade, arreda Ou trata de te arredar Onde D. Carlos pôs os braços Ai, não é pra’ra frades abraçar Lá no meio da confissão Um beijinho lhe quis dar Arreda-te, ó frade, arreda Ou trata de te arredar Onde D. Carlos pôs os lábios Não é pra frades beijar Cala-te, Dona Mariana Não te estejas a difamar Que eu não sou frade nenhum Ai, sou D. Carlos d’Além-Mar Monta-te naquela liteira Ai, tratemos de caminhar Chegaremos ao meu palácio Trataremos de ir casar