Berenice Azambuja

Forasteiro

Berenice Azambuja


Xote

me dá licença que eu estou chegando 
eu sou lá do Rio Grande terra hospitaleira 
sou chucro da querência mas bueno de prosa 
se houver churrasco e trova e passo a noite inteira 
sou forasteiro mas me dou ao luxo 
de ser um bom gaúcho e nunca fazer feio 
se quer me ver contente é me deixar cantar 
sapatear a chula e laçar num rodeio 

acho bonito um baile de galpão 
levantar poeira do chão num xote afigurado 
usar bombacha e tomar chimarrão 
e horar a tradição do meu Rio Grande amado 

sou afamado nos bailes de rancho 
e mesmo de carancho sou bem recebido 
se pego numa gaita e começo a tocar 
eu sei como deixar um baile divertido 
se houver encrenca e venha pro meu lado 
tô sempre preparado e não fujo da raia 
já fiz muito valente sair porta à fora 
escondendo as esporas num rabo de saia 

meu coração é como esse Rio Grande 
aberto para todos que quiserem entrar 
porém se alguma china me fizer proposta 
lhe dou logo a resposta pra não se enganar 
não me demoro aqui por estes pagos 
não sou acostumado longe do rincão 
mas se quiser garupa o meu cavalo agüenta  
e vai de contrabando lá pro meu galpão