Que fome das águas barrentas, que sede dos temporais Um barco perdido, sem movimento, no balanço do cais Atravessando o abdômen as garras do tempo, um vão Pelo ralo do umbigo os retalhos da solidão As raízes pedras, os sonhos rasteiros mastigam Num salto o olhar arqueia o corpo pra trás O enjôo do cheiro da cor da memória O mar vomitando e engolindo as coroas dos funerais Frangalhos, nos galhos da vida Na sala dos bisturis, riscos de luz Respiram o azul os peixes antigos Milongas, guitarras, um céu andaluz De um jardim suspenso, as flechas em chamas Riscam teu nome e em meus dentes a dor dos metais Alumiadas no fogo as coisas são femininas Um universo queimando em mim até o nunca mais As cordas de aço no peito e algumas roupas cinzas Ao lado do forno secando junto aos animais O veneno e o antídoto correndo nas veias Me repousa leve, por favor, senão eu vou desabar Indo, assim pelo chão derramado Pelos buracos de mim, a lua e sua escuridão Invado a tua morada como chuva fina A casa vazia em teu peito, teu coração Frangalhos, nos galhos da vida Na sala dos bisturis, riscos de luz Respiram o azul os peixes antigos Milongas, guitarras, um céu andaluz De um jardim suspenso, as flechas em chamas Riscam teu nome e em meus dentes a dor dos metais Alumiadas no fogo as coisas são femininas Um universo queimando em mim até o nunca mais