Eu nasci pra ser poeta Não estudei pra rimá Tenho verso na cabeça Mais que letra no jorná Peixe grande não me engasga Lambari quer me engasgá Eu trago no meu pescoço Enrolado num patuá Coração do sapo seco Pro encanto não quebrá Sou filho da cobra verde Neto da cobra corá Eu mato sem fazer sangue Engulo sem mastigá Arranco toco com raiz No chão não deixo siná Já tirei uma macumba Do chifre de um marruá Eu já vi dois grão de milho Dá dez quarta de fubá Quando eu entro num catira Eu topo qualquer azá Faço viola sem corda Nas minhas garra ponteá Eu danço por cima d’água Faço poeira levantá Quando viajo de avião Eu saio pra tomá o ar Coração nas sete linha Tá comigo no emborná Eu tirei carro da lama Com uma junta de gambá O leite da cobra preta Que eu matei num bananá Com duas garrafa d’água Fiz um monjolo tocá Viajei setenta légua No lombo de um piriá Tem um prêmio do governo Aquele que me encontrá