A gente precisa fazer um samba contemporâneo Então tem que falar de depressão, esquizofrenia, medo Medo de gente Medo de solidão Medo da chuva (não, não, sobre esse aí já fizeram música) Medo da polícia Ah, essa sim eu tenho medo, violenta, corrupta A gente podia fazer um refrão assim Eu tenho medo da polícia, eu tenho medo da polícia Mas se for pra falar da polícia Vai ter que falar da luta de classes Beleza, simbora então Quem disse que a luta de classes É um papo retrógrado, antigo, datado Tá mal informado Preste atenção na avenida paulista O carro ao seu lado com vidro blindado Que medo da vida Ou medo da morte querida não sei Tem gente que acha que pode mudar a sociedade Sem perder o status privilegiado Talvez eu conheça esse tipo de gente Soberbo, mimado Talvez inocente Que medo da rua Ou medo de pobre, querido vê bem Quem disse que o samba morreu Enjoou, se vendeu, se despolitizou Já não sabe de nada O samba é cultura com aspas, eu sei O samba, coitado, também é refém Mas sem medo da mídia Em terra de bamba quem samba é rei No Brasil todo mundo é sambista Exceto quem não é