Não sei por que nesta noite o sono velho cebruno ergueu a clina e se foi! E eu que arrelie ou me zangue. Tenho olhos de ave da noite, ouvidos de quero-quero cordas de viola nos nervos e uma secura no sangue. Então, da marquesa salto e vou direto ao galpão: bato tição com tição e a lavarede clareia os caibros do galpão alto. Já a cuia bem enxaguada, corto um cigarro daqueles de reacender vinte vezes num trote de quatro léguas de uma chasqueira troteada. E, quando a chaleira chia, principio um chimarrão, mais verde e mais topetudo do que um mate de barão. Me estabeleço num banco pra gozar gole e fumaça, pitando um naco de branco. E entre tragada e golito saludo mui despacito cada recuerdo que passa. Um galo - o cochincho-mestre! o laço desenrodilha. E fica só com a presilha e solta a armada bem grande do laço de um canto largo de sobrelombo a uma estrela. E os outros galos-piazitos vão atirando os lacitos como em guachas de sinuelo. E até um garnisé cargoso vai reboleando orgulhoso o soveuzito feioso feito de couro com pêlo. Nem relincham os cavalos! Com brilhos de ponte-suelas, lá em riba estão as estrelas! Cá em baixo os cantos dos galos. A estrela d'alva trabalha na imensidão da hora morta: - ou num perfil de medalha ou a maiúscula inicial sobre a prata de um punhal que ainda há de sangrar o dia. E a "Nova" ao largo se corta, magra, esquilada, arredia, empurrando a guampa torta contra o ventito do Sul, como num campo de azul, a ovelha chamando a cria. Solito, perto do fogo, como um bugre imaginando, escuto o Tempo rodando sem descobrir o seu jogo. O perro Baio-coleira faz que cochila... E abre os olhos, a espaços, regularmente. E me fixa os olhos claros como um amigo, dos raros, cuidando do amigo doente. É um gosto olhar os brasidos E os luxos das lavaredas dançando rendas e sedas para a ilusão dos sentidos. E entre o amargo e a tragada tranqueiam na madrugada tantos recuerdos perdidos. E o chimarrão macanudo vai entrando pelo sangue! Vai melhorando as macetas, curando as juntas doridas como água arisca de sanga sobre loncas ressequidas. O peito avoluma e arqueia como cogote de potro. E as ventas se abrem gulosas por cheiro de madrugada. - Potrilhos em disparada num Setembro de alvoroto. Ah! Sangue velho... Descubro porque hoje estás de vigília: - Dois séculos de Fronteiras. de madrugadas campeiras, de velhas guardas guerreiras bombeando pampa e coxilha! Por isso é que hoje não dormes! Ouviste a voz de ancestrais: -"O chimarrão principia! Alerta! O campo vigia! Da meia-noite pra o dia Um taura não dorme mais...