Era uma canção sem intenção de magoar, mas magoou Esparramando pelo ar Trazendo imagens secas Palavras caladas, engasgadas no tempo Ideias criadas sem pensar em tormentos E a vida desencantou-se E se ficou quase sem nada Da gota do mel doce Fez-se a lágrima salgada Era uma canção com intenção de se amar, mas se chorou Naufragando pelo mar Trazendo palavras cruas Saudades mofadas pelas dores de amar Orgulhos feridos por um gesto no olhar E o riso perdeu as cores E se ficou quase sem nada Da gota do mel doce Fez-se a lágrima salgada Levanta-te e vê O mundo não é o mesmo e tu nada fizeste além de dormir Para as cachoeiras de sangue Para as preces dos vaidosos na montanha dos mortos Além da calmíssima planície dos acomodados Enormes árvores imbecis, mas sinceras Levantam seus braços ao céu Tentando voar, tentando mais do que podem Levanta-te, miserável, e vê Tua mediocridade é maior do que o mundo Tua dor não existe porque é dor medíocre Tu és o inferno, tu és o demônio E nunca poderás te exorcizar de ti De tua miserável condição biológica De ser o Deus de tuas ações mecânicas Levanta-te, falso revolucionário e vê Tu és pedra, nunca cordeiro Nunca subjetivo, sempre carne e sangue As ações mudam o mundo Mas tu não és ação, tu és carne Tu és o podre fedor de tua vida morta de sentido Levanta-te medíocre, e vê O sopro do universo em tuas areias O sangue do sol, o fogo das estrelas O furor dos tempos, a guerra, a loucura, a dor E tua alma não passa de uma sombra Não és o produto dos teus atos És célula, molécula, átomo, energia, caos, falta de lógica, nada Anda muda de mundo, tira férias deste mundo, não haverá diferença Não és Deus mesmo Serás sempre um proletário Num mundo de prováveis almas escolhidas