Dois mil e tantos anos Herdeiro dos sonhos perdidos Herdeiro do sonho da casa própria, do carro popular O sonho de ver o filho formado Sair do barrado de madeira O sonho de ter um emprego digno Onde se possa ganhar razoavelmente bem Pra não ver a luz cortada ou aluguel atrasado Não cuzão! Não estamos felizes Em limpar chão que você pisa Em servir salmão enquanto o filho come Danone Não somos mais seus escravos Pra si contentar com o resto do seu prato Contaminado com a sua saliva podre Não somos poucos, somos 1700 moradores de rua no estado do Paraná Entre 09 e 15 anos de idade Formamos uma lista de 7 milhões de meio e desempregados Nas agências do trabalho em todos os estados 563723 detentos Em severas degradações humanas em todo território nacional Não cuzão! Não cheiro sua coca, não fumo seu crack Não sou alienado pelo seu programa falso na emissora de TV Sonho muito com a inclusão social mas não através do seu sangue respingado Na tela do computador e seu corpo debruçado sobre a mesa Sou contra seu plano diabólico de trardação mental Que já tinha sendo executado pelo senhor do engenho Sua onda induzida as guerras e acreditar que o inimigo é o amor Que mal aguenta com peso do fuzil que custa 50 mil reais Não cuzão! Não temos saldos milionários Pra investir na refinaria de pó você que financia Você nos faz acreditar que somos monstros Você traz o turista pra se divertir com a nossas crianças Que se prostituem em troca de lanche refrigerante Mas nossos sonhos continuam vivos ainda queima dentro do peito como brasa É isso que nos faz levantar as cinco da manhã Enfrentar duas horas de viagem de busão lotado Enquanto essa chama tiver acesa Meu Rap ainda vai toca na casa do favelado Meu verso vai ser um dedo na ferida do sistema Por que as almas perdidas só precisam de uma luz Pra retornar ao caminho que assim seja Herdeiro dos sonhos perdidos