Sete horas da manhã Lá fora o dia amanheceu No sofá da sala, o papo é bom Em cima da mesa um cabernet E outras três garrafas já vazias Fermentando as ideias Põe a blusa, faz frio, vai viajar Vai lá pra estrada de terra Pra caçar cogumelo no mato Pra correr dentro do pasto Andar no meio da linha do trem Levantar o chapéu e bancar o cowboy Mas na segunda-feira vai trabalhar Bota o terno e pega o trem Embaixo da terra bem de manhã Vai praguejando em silêncio Mata uns três ou quatro só com o olhar Explode o vagão no pensamento Chega no escritório, toma um café E senta no computador Abre a tela, é um pornô Outra corrente de e-mail deprimente Olha no relógio, vai demorar Corre pro banheiro e aspira o pó E a faxineira lhe acha estranho Abre a camisa, tira a gravata Coloca o chapéu e sai cantando Encara todo mundo feito um cowboy Ninguém vai lhe dizer o que fazer Ali não é seu lugar E fica assim, pensando na estrada de terra Até as cinco horas E vai pra casa, sem seu chapéu Feito um sujeito comum