As vilas eram cemitérios sem públicos coveiros Com corpos espalhando nas ruas destes baleeiros As vivendas eram campas abandonadas Por gente que escolheu como matas para morrer E as machambas queixavam-se da falta de cha-chas Os pássaros irritados pelos cantos que não puderam soar E as flores dos tristes campos cheiravam pólvoras O direito à vida que me foi tirado sem debates Eu vi corpos decepados a catanas não afiadas Penetrando em quem apenas ofertava mortes Eu vi sonhos esquecidos nas matas do medo Quando o rugir dos leões fora dos parques Sepultavam os nossos filhos em ataques São momentos que jamais nos devolverão sossego Eu vi o muito que em pouco tempo a vida mostrou Eu vi animais disfarçados em pessoas que o demônio gerou As cinzas que outrora chamávamos de casas O estrume sangrento que chamávamos de família A esperança do desabrochar daquela flor Nada sobrou além da dor Talvez meu grito não foi suficiente Quando o estupro convidou-me a morrer Papá eram homens que usaram da sua filha como simples papel higiênico O sangue que derretia para atos destes homens bélicos Talvez o meu grito não foi suficiente Os filhos arrancados do ventre de quem pariu A despedida sofrida de quem partiu O marido que nem mereceu aquele banho de águas quentes Foi-se cheirando sofrença Foi-se grávido de perguntas sem respostas Foi-se desprovido de chaves para fechar as portas Foi- se o sonho que escapou da minha palma Gritaram as armas para calarem as almas Foi-se Macomia, Mucímbua e Palma Talvez o meu grito foi insuficiente Usaram o nome de Deus talvez para tornar o pecado santo E em nome do meu Deus, em pranto, Apenas grito Salvem-nos! Enquanto não fizermos uma corrente de esperança Teremos um Cabo desligado A escuridão vai tirando o norte da nossa gente E se não for a morte será cada um a sua sorte Nisso, há quem morre a tiro Há quem morre por desgosto e há quem morre por ter Nada para comer Zambézia De mãos dadas por Cabo Delgado