Existe uma coisa Pequena e sem graça Que insiste em arranhar As paredes de casa Da casa de dentro Que eu tento guardar Manter tão cuidada Saudável, bonita Mas vem essa coisa Que é tão destrutiva Que me quer perdido Vazio na vida Que prefere me ver ao chão Que cresce quando eu digo não Se eu olho pro abismo Ela pisca de volta Essa coisa está doida Pra me ver na fossa Me achando o pior do pior Aproveita quando estou tão só Bagunça as ideias na minha cabeça Convence do pouco e me pede que esqueça De achar que posso ser melhor Prefere me ver dando o nó Existe uma coisa Pequena e sem graça Que me faz abrir mão Do caminho de casa Da casa de dentro Que eu tento manter De pé, com a fé De que vou conseguir Mas vem essa coisa Que é tão corrosiva Pintando a esperança com seus tons de cinza Sem nenhuma explicação As ideias vão na contramão Se eu olho pra fora Eu vejo no mundo O ódio que mata Segrega, separa Sufoca com seu joelho Há dores em tudo que eu vejo O abuso, a indignação Cancela quem é e quem não Certezas tão certas Tão fakes, tão belas Me sinto mais seguro aqui Sozinho com a coisa Pequena e sem graça Que zoa meu nome Me chuta, me rasga Me grita pra tirar a espada da pedra Pergunta do que eu sou rei Ei! Mas se tem uma coisa que a coisa não sabe É que a casa é minha E eu que mando nela Tem dias que eu deixo Me afogo e me aquieto Tem dias que eu sou bem mais Sabendo que a coisa pequena e sem graça Também é uma parte de mim Acolho a coisa pequena sem graça Sem ela eu não chego até aqui Todo mundo tem sua coisa sem graça Pequena bem dentro de si Assumo minha coisa pequena sem graça que me faz querer Ser o melhor de mim