A moça gorda sorri para o nada, Ajeita o vestido, E segue plantada à espera À espera de um ônibus que não virá. A moça gorda não cansa de esperas. A vida da moça gorda é, toda ela, espera. A amiga da moça gorda nem ao menos é bela. É claro: É magra a amiga da moça gorda. Não é feia a moça gorda. É gorda. Tem o peso e a solidez Das coisas que se quer próximas Mas não se quer pra si: Uma família alemã, Uma estátua eqüestre que se corrói, Um ex-melhor amigo de tantos anos. A compaixão dos desumanos. A moça gorda é um bilhete do tempo que amortece seus calores num vazio que enche a sala. A moça gorda não chora, não fala, nem cala. Tão crua, a moça, em seus castos anos, Aprendeu que a vida mata.