Arlindo Pinto

A Cruz do Caminho

Arlindo Pinto


declamado:

Puxe a cadeira seu moço, 
Sente aqui um bocadinho, 
Vô contá o que significa 
Aquela cruiz do caminho. 

Seu moço todas as história 
Cuntece por causa do amor, 
Mas esta é bem diferente, 
Não tem muiê não sinhô. 

Onde essa cruiz tá fincada, 
Naquele pedaço de chão, 
Há tempo foi interrado, 
O Zico da Conceição. 

O Zico da Conceição, 
Cantadô i bão violero, 
E tinha a vóis mais bunita, 
De tudo o sertão intero. 

Quando garrava na viola, 
E começava a cantá, 
Cantava moda bunita, 
Fazia a gente chorá

cantado:

Um dia o pobre coitado, 
Sentiu-se muito doente 
Daí então desandô, 
A imagrecê de repente, 

Anssim ficô muito fraco, 
Já nem podia cantá, 
Saiu um dia de casa, 
Foi o doutor percurá. 

I tudo aqui sintiu farta, 
Daquela tão linda vóiz, 
Daquela moda bunita, 
Que ele cantava prá nóis. 

E o dotor disse prele, 
Seu Zico da Conceição, 
Tenha pacência rapais, 
Vancê tá ruim dos purmão. 

O rapais veio simbora, 
Tristonho sem esperança, 
Parô naquele lugá, 
Chorano que nem criança, 

Anssim o pobre coitado, 
Não resistiu tanta dor, 
Rancô da sua garrucha, 
E mermo ali se matô. 

Com ele foi interrada, 
A sua viola de pinho, 
E aqui termina a história, 
Daquela cruiz do caminho.