Há um potro dentro de mim, pedindo cancha. Sinto-lhe o bater do coração inquieto como um tambor a rufar em véspera de peleia braba. No meu olhar o seu olhar de fogo se confunde na ânsia de devassar a vastidão de todos os caminhos que os seus cascos de bronze e asas não pisaram. Potro de sangue ancestral, telúrico em seu ímpeto selvagem, maior porque contido no seu lance como um cartucho que sente o gatilho pronto para o tiro. Tudo o que fica além de meu passo de nômade prisioneiro, tudo o que não alcança o meu braço de músculos dormidos, tudo o que meu olhar não pressente na distância - isso tudo a chamá-lo, tudo a chamá-lo como um toque de cincerro no silêncio da noite. Seus ouvidos de animal selvagem são sensíveis ao apelo da distância, ao apelo da noite, ao grito dos que rompem cancelas e aramados para abrir a golpes de audácia o seu caminho de aventuras. Há um potro dentro de mim, pedindo cancha... No laço de chegada, que fica sempre além, e ainda mais além, e sol não se põe nunca, para vestir de ouro os que tiveram pata para engolir todo o estirão da raia que é um desafio de léguas pela frente. Mas como custa arrebentar o laço do andarível de partida desta cancha!