Zumbi, um negro, respirando rebeldia, foge pra mata um dia à procura do Lugar. Era um Quilombo, a terra dos ex-escravos, todos livres, sem os travos, sem ter dono pra ferrar. Vinham mestiços, índios chegavam do eito, todos lá tinham direito, preto, branco, sarará. Uma nação de iguais sem oprimidos, de homens livres nascidos, crescidos sem apanhar. Chegaram ali brancos pobres, mamelucos, com pau, pedra e trabuco pra liberdade ganhar. Todos queriam ser mais um quilombola, não viver pedindo esmola a que não queria dar. Uma cruzada contra os povos livres, bravos, para mantê-los escravos, correram então a formar. E a batalha derradeira aconteceu, jamais dela se esqueceu quem nasceu nesse lugar. O sol, o sol já vem. Eu namoro uma morena e sou moreno também Vi preto livre lá na Serra da Barriga enfrentar bala e urtiga para não se escravizar. Como uma praga, saída dos evangelhos, vi Domingos Jorge Velho palmares incendiar. Eu vi foi tiro, eu vi corte de peixeira, pernada de capoeira, vi corpo no chão rolar. Eu vi Zumbi ser preso, ser torturado, violado e humilhado por querer se libertar. Eu vi seu corpo ser a faca esquartejado, como um bicho ser sangrado, também vi seu degolar. Vi a cabeça enfiada numa vara, eu vi toda a sua cara no sol quente descarnar.