O corpo é minha base (óbvio) mas (também) minha relação com o mundo. Conheço meu corpo (mais) por dentro: uma intimidade renovada e sem surpresas, num diálogo diuturno e franco. Percorro-o pelos meandros vasculares num exercício mental percebendo seu funcionamento (subsistemas), vejo-o por dentro, sentindo-o - ele não sente, eu que o sinto - nas partes e no todo de meu pensamento: ele cresce, renova-se, decompõe-se enquanto eu o assisto. O corpo tem os seus humores e rompantes: ele tenta me dominar mas na maturidade da vida eu o comando sem tirania e até com complacência, satisfazendo vontades e caprichos. Troco experiência (vivência) com o ar, com os sons, a luz - pelo corpo e não (apenas) com a razão. É o meu corpo que sabe (mais) antes de mim. Eu apenas decifro e decido, quando não me deixo seguir seu próprio rito. Ele nem sempre responde aos meus estímulos. Eu tampouco satisfaço (todos) os seus apelos, num equilíbrio provisório. Sem sobreviver a ele, sem vitória e sem final numa bioquímica sutil que acompanho a uma distância entre passiva e determinante, mas nesse caminhar (juntos) sempre chego na frente.