Dentro e fora são opostos irreconciliáveis (ou não) da condição humana: no fundo, todo beato é um sacrílego todo moralista é um pervertido todo honesto é o corrupto na véspera. Nelson Rodrigues era o moralista de plantão um inveterado conservador n´ A Vida como ela é enxergando beatas onanistas pervertidos purificando-se pelo pecado - daí o maniqueísmo cristão. De honesto a desonestos apenas a oportunidade intermedia. Aceitaria exceções, naturalmente: os fanáticos seriam uns radicais alienados os loucos seriam os mais puros e coerentes. Via velhos velando cadáveres violados via pais deflorando suas filhas via juizes praticando crimes hediondos e criminosos como fervorosos crentes. Sete pecados capitais não bastam para encerrar as debilidades humanas. Lembrem-se dos caralhos voadores nas paredes da latrina na cena d´ Os Sete Gatinhos: grafitagem de sonhos e desejos. Lembrem-se das vezes que matamos na intenção e do nosso gozo com extermínios e torturas. No fundo - garantia - somos todos uns canalhas - só que poucos assumem: estes seriam os melhores. Mortos, seremos todos iguais. Vivos, ainda mais. Não foi o Rui Castro que apelidou o Nelson Rodrigues de Anjo Pornográfico? Eu, no entanto, acho mesmo que era um santo.