O néscio, o ignorante, o inexperto, Que não elege o bem, nem o mal reprova, Por tudo passa deslumbrado, e incerto. De tanto ver vencer a iniqüidade De tanto perseverar E triunfar a incompetência... Mui alta e nobre jactância Tão rasteira e sobranceira militância Entre contrários e correligionários Viceja a corja de sicários! Ratos e saúvas subterrâneos Roem e corroem Os alicerces de qualquer regime. Gente assim posicionada Distribuindo vantagens Sem qualquer merecimento Alastrando-se como enfermidade Por herdades e sesmarias. O poeta baiano, horrorizado Vendo que gente alumbrada De nascença Sendo na vida tão puta Vá na morte tão honrada Ou De ver ir com honra, morta Quem nunca teve honra em vida. Que vira nome de rua Busto em pedestal Exemplo de vida Em textos escolares. De tanto ver o opróbrio - palavra agora em desuso Mas na prática, resistente De tanto assistir ao capadócio - palavra fora de moda - Triunfar e ser exaltado O poeta maldito - sendo, como foi, um direito entre tortos - Amaldiçoa os seus mortos Uns néscios, que não dão nada Senão enfado infinito. E confessa, submisso: Em amanhecendo deus Acordo, e dou de focinhos... Ouço cantar os passarinhos... Mas caindo na real Afinal, acredita Que nem tudo anda assim Tão mal, e responde: Sois um mecenas da veia Deste poeta nefando Que aqui vos está esperando Com jantar, merenda, e ceia. Que ninguém é de ferro E saboreia.