António Mello Corrêa

Ovelha Negra

António Mello Corrêa


Chamaram-me ovelha negra
Por não aceitar a regra
De ser coisa, em vez de ser
Rasguei o manto do mito
E pedi mais infinito
Na urgência de viver

Caminhei vales e rios
Passei fomes, passei frios
Bebi água dos meus olhos
Comi raízes de dor
Doeu-me o corpo de amor
Em leitos feitos de escolhos

Cansei as mãos e os braços
Em negativos abraços
De que a alma, foi ausente
Do sangue das minhas veias
Ofereci taças bem cheias
Á sede de toda a gente

Arranquei com os meus dedos
Migalhas de grãos, segredos
Da terra, escassa de pão
E foi por mim que viveu
A alma que Deus me deu
Num corpo feito razão