Antônio Marcos

Registro Geral

Antônio Marcos


(Declamando)
Sou quem se cruza
Ao passar por você,
Quase todos os dias!
Sou o que vem e o que vai,
Mas você nunca sabe!

Sou apenas um,
Um a mais...
Na rua,
No mundo e na vida,
Apenas um,
Apenas um a mais...

Tenho estatura comum,
Olhos e cabelos castanhos,
Eu gaguejo um pouco
Quando fico nervoso.

Tenho esperado
Que se termine logo o metrô
Que é pra eu chegar
Mais depressa em meu trabalho!

Que mais posso dizer?!
Nunca fiz nada de muita importância,
Nunca verei meu nome,
Em manchetes de jornais.
E se acaso isso um dia acontecer
Será por motivos muito tristes!

(Cantando)
Alguma vez escrevi
Três ou quatro poesias,
Que eu gritei por aí,
Sem dizer que eram minhas!

Tenho uma vida pequena,
Mas nunca vazia!
E alguém me amou uma vez
Quando mais eu queria!

Poucas pessoas que eu quis,
Eu verei no caminho...
Quando eu tiver que partir,
Sei que parto sozinho!

Ah! quando a estrela acabar,
Quem poderá me arranjar
Outro registro geral?!

Declamando:

Certa vez,
Entre as quatro paredes de um elevador,
Em meio aos gritos da penúltima noite,
Eu vi um bêbado todo enfeitado...

De voz pequena, ele cantava a vida,
O rosto azul e um girassol na testa,
Dançava a dança e encanto esperançado,
Bebeu demais e se espalhou na terra...

Pra meu espanto e pranto imediato,
Incendiou-se o elevador do tempo...
E não havia o que temer no fogo,
Mas eu fui bobo e não dancei de medo!

Hoje eu desci do elevador e ando,
Esbarro a toa em templos da estrutura,
Talvez estúpido ou desinformado.

Sou importante
E nunca plantei flores,
Não dei boa noite,
Não comi a terra,

Será que eu deixarei
Um filho bem plantado?!
E a indiferença desse sol escasso,
Me dá o espaço de quem sabe nada,

Onde andará o bêbado enfeitado?!
Em que lugar o girassol da vida?!