Onde os meus avós viveram por muitos anos atrás Os dois desapareceram nem a casa existe mais Outro dia eu passei perto até parece um deserto Não tem quem ouça uma voz A não ser de um pau rangindo Nos dois pés de tamarindo Da casa dos meus avós Não vi mais no seu terreiro o curral da vacaria Nem mesmo os paus do puleiro aonde o galo dormia Janela porta portão panela pote fogão Vi transformados em pós Somente estão resistindo Os dois pés de tamarindo Da casa dos meus avós Superando a estiagem valorizando a semente Serviram de hospedagem pra todo tipo de gente Ciganos caravaneiros tangerinos e vaqueiros Traziam rede e lençóis Passavam noites dormindo Nos dois pés de tamarindo Da casa dos meus avós Nos galhos fazendo ninhos sem precisar documentos Se encontraram passarinhos no maior divertimento Os insetos se ampararam as lagartixas não param Cada qual a mais veloz Ficam descendo e subindo Nos dois pés de tamarindo Da casa dos meus avós Depois de tantos castigos vítimas das secas tiranas Estão lá os dois amigos anos meses e semanas Superando os grandes sustos verdes viçosos robustos Parecendo dois heróis Vencendo o tempo e sorrindo Os dois pés de tamarindo Da casa dos meus avós Ainda estão do mesmo jeito a não ter sido o machado Que provocou um defeito num galho que foi cortado No tronco ainda tem raiz na casca ainda tem verniz Sobram ramas nos cipós Não falta flor se abrindo Nos dois pés de tamarindo Da casa dos meus avós O tempo nunca deu fim o verão não os venceu Depois da seca o cupim tentou comer mas não deu Sua madeira maciça somente o fogo cobiça Mas sei que o homem feroz Vai terminar destruindo Os dois pés de tamarindo Da casa dos meus avós Interroguei pra saber por qual razão vivem tanto Ninguém quis me responder também não sai do canto Fiquei perguntando aos dois foi quando notei depois Grande silêncio entre nós Terminei me despedindo Dos dois pés de tamarindo Da casa dos meus avós Terminei me despedindo Dos dois pés de tamarindo Da casa dos meus avós