Desde criança arava a terra Tinha muitos calos nas mãos Tinha muitas marcas no rosto Causadas pelo Sol e por sua condição Às vezes faltava a mistura na mesa Junto ao arroz e o feijão Mas a esperança nunca se dobrava Como joelhos sobre o chão A lida com a terra era muito difícil Mas ele não tinha tempo pra lamentar Os olhos choravam faminto E a fome não ouve, ela só grita Saía pra roça com chapéu de palha Enxada cavando o chão árido Cavava com o mesmo tanto de esperança De quem procura sobrevivente sobre escombros E o seu país não deu a retribuição Por toda a sua contribuição Em alimentar tantas bocas e tornar fértil o chão Assim como o sopro apaga a vela Parou de bater o seu coração E tudo o que aquele homem possuía Em seu último dia era o seu trabalho E com os olhos fixos, ele indagou Fez uma pergunta em seu momento último Com tanta riqueza, nesse país, continente Como é que pode a fome e a sede matar tanta gente? O mundo é grande, igual aos latifúndios Mas bendito é o agricultor Que produz e faz florir o pão da terra Que alguns usam apenas como bibelô