Um poncho desaba a tarde nos ombros desta fronteira Num tranco de abrir porteira, batendo o aço da espora Cacho atado de um zaino, crioulo marca de estrela Seguindo a alma sinuela, nos rumos de ir s’embora Um baio claro de tiro, dois cuscos “bajo el estrivo” Talvez não saibam o motivo na escolta da comitiva Que sem querer leva a tropa da vida de tanta gente Que vai cansada e nem sente, porque ainda segue viva Vai estendida uma tropa de ilusões e quimeras E a certeza que era o sustento dessa fronteira Que foi por diante no tranco deixando marcas na estrada Pra quem não ficou com nada quando fechou-se a porteira Depois da estância arrendada por gente de outro pago Se perdeu o olhar por vago, procurando uma vertente E o tempo ficou distante pra querer voltar ao passo Maior foi ficando o espaço, separando terra e gente Chapéu de aba batida, feitio das chuvas de agosto Tapando o jeito do rosto que mira longe e bem perto Certezas de quem um dia teve querência e caminho E agora segue sozinho, sem achar que esteja certo Um poncho desaba a tarde num prenuncio de aguaceiro Toldado sobre um tropeiro que dentro dele se esconde E leva por diante sonhos que guardou na própria vida Feito uma tropa estendida, pro rumo do não sei donde