O Ócio era um nego que vivia a sonhar Sonhar com as estrelas que cingiam o luar Em cada esquina ele fazia o seu lar E a Deus dará ganhava seu pão, Até adoecer de solidão Tão triste deixou de ver a lua a brilhar Cansou de fazer do viaduto o seu lar Jurou que um dia sua vida ia mudar “Eu vou trabalhar, vou pra construção” “Quero me erguer, sair do chão.” E o nego Ócio trocou o papelão Pelo aconchego de um barracão Comprou um rádio, TV e um sofá pra deitar Mas tão cansado que não mais voltou a sonhar O Ócio era um nego que vivia a vagar Por entre os andaimes da cidade a rogar Pela liberdade que vieram roubar E a Deus dará, chorava em vão Até adoecer de aflição Um dia o Ócio não foi trabalhar Pediu demissão sem se justificar E fez-se vadio deixando o mundo a girar “Vou me embriagar, não há solução” “Quero esquecer, voltar pro chão”. E o nego Ócio trocou o barracão Pelo sossego de um papelão Vendeu o rádio, TV e um sofá de deitar E, feito criança, viu o céu e se pôs a chorar.