Flor se abriu em pleno inverno Nasceu, feriu, desafiou suave o tempo Eis a vez, mais uma vez De se olhar e ver ao longe No horizonte, além do monte, mais adiante Está o abismo do sonhador Fui eu quem saltou Ainda faz calor, abraço a dor Nu como estou Eu faço o céu de cobertor Olha a lua, olha o dia Lhe deixei na escrivaninha Um botão de flor vermelho como a vida Plantei mil flores no teu quintal Mil flores ao mal Mal de amar enfim Sonhar enfim, arder no fim E a tarde cai em queda livre Cai a fonte, se faz rio Corre em terra, chega ao mar E sobe em nuvem, chora em chuva, molha o rosto De alguém que olha na multidão infernos no céu O dia vai nascer Me espera, quanto menos se espera Uma flor vai se abrir revelando o segredo de ser Sou eu o beija-flor primeiro Extraindo no sumo do amor a canção que se fez A flor traz no âmago a dor Eram três da manhã no relógio da esquina Que a tempos parou