Anda encurvado Carrega em cima o peso do passado Sabe de cor as pedras do caminho E até é esperto ao ponto de falar sozinho Para evitar discussões em tempos idos Já comandou soldados e bandidos Deu pão aos pobres, paz aos oprimidos Mas a proposta escrita do dever cumprido Não contemplava pensões E evidentemente enquanto ajudava a gente Tratou de todos menos de si Trocou mulher e filhos por protestos e sarilhos E ao fim ao cabo anda por aí Sem rei nem altar Nem revolta popular Eu sinto-me um pouco assim Por ver tanto dele em mim Se eu lhe for falar Tem histórias de apaixonar E é triste ver que acaba então Com as memórias no chão E a cama numa caixa de cartão Arruma carros E troca os seus serviços por cigarros Canta velhas canções desinteressantes E até se fez amigo de alguns estudantes Que lhe ofereceram traçado há quinze dias Visitou vereadores e freguesias Preencheu todas as burocracias E até saiu de lá sobrequalificado Para a oferta de mercado Vem, vem Volta para o teu lugar Vem, que alguma coisa se há-de arranjar só para ti Mas ainda não descobri Quem, quem De algo te possa valer Quem, quem esteja pronto para o fazer Na sua mão A quem deu todo o futuro pela nação Sem rei nem altar Nem revolta popular Eu sinto-me um pouco assim Por ver tanto dele em mim Se eu lhe for falar Tem histórias de apaixonar E é triste ver que acaba então Com as memórias no chão E a cama numa caixa de cartão