Senti falta da solidão, de escrever Senti falta de sentir fome, Deu cansaço de comer Senti falta de ser livre, Deu vontade de voar, De me encontrar com o Recife, Com suas pontes, suas águas De encontrar com as suas mágoas, Suas ruas de agonia, Passar pela filosofia De um artista popular Senti falta de ser outro, Ter outro corpo, outra vida Quis olhar essas feridas, Esse sangue é uma tinta Para pintar de ouro, E com fitas enfeitar o coração Quis compor uma canção Com as águas doces do mangue E que esse sangue não estanque Que fique aberta a ferida E que essa lama seja a vida Renascida, recriada, Escura feito a madrugada E embriagada nessas cinzas.