Que barulhada nessa casa a noite inteira Dança mesa com cadeira, uiva um cão lá no quintal Um bode preto dança quando o galo canta Toda a vila se levanta nessa música infernal Ouço gemidos, vejo vultos passeando De vez em quando faz-se a luz, não há ninguém A minha casa nunca foi mal assombrada Mas agora é frequentada por amigos do além Se algum valente quiser verificar, venha ver Para depois me dizer como é que é À meia-noite com os seus olhos em brasa No telhado lá de casa vai cantar o caburé Então começa o brinquedo Vem uma voz do outro mundo Contrabaixo profundo Em cantochão Ranger de dentes, palmadinhas, brincadeiras Risadinhas, zombeteiras, grito e choro em precação Já fui até à macumba Consultar a sessão Já fiz a minha oração Mas afinal Até parece que é a sucursal do inferno Meu sofrer será eterno nessa luta desigual Esburaquei toda casa com a melhor intenção Tudo porém foi em vão, nada encontrei O que eu devia era ter pago aos meus credores Esses pobres sofredores que eu em vida não paguei