Nós andamos pelas ruas procurando algum prazer Reviramos as lixeiras dos artistas de tevê Adoramos as vitrines, os letreiros em néon Assistimos os comícios e os fogos do reveillon Nós estamos mal vestidos, mais um dia que se vai O banquete dos mendigos em noite de black-tie Nós estamos mal nutridos, as migalhas pelo chão Nossos próprios inimigos nos carregam pela mão Construímos as igrejas porque somos bons cristãos E matamos nossos sonhos com as nossas próprias mãos Procuramos o messias nas manchetes do jornal Nossas velhas fantasias esperando o carnaval Nós estamos enrugados, trabalhamos sol a sol A nau dos desesperados procurando algum farol Nós estamos condenados, quem consegue ser feliz Entre a mira dos soldados e o martelo do juiz Nós estamos por aí, quase nada pra fazer Nós estamos por aí, excrementos do poder A milícia faz a ronda, vão também os marginais Lado a lado, na penumbra, todos eles são iguais Os pivetes tomam conta das mulheres de aluguel Cai a chuva na cidade, o castigo vem do céu Confessamos o pecado, imploramos o perdão Acendemos nossas velas para o santo de plantão A insônia em nossas camas, velho filme de terror Esfregamos nossos corpos, dez minutos de amor Os pastores eletrônicos explorando a nossa fé Nós estamos de joelhos e o pastor está de pé Apontando os nossos erros e contando os seus milhões Loteando o paraíso em suaves prestações Nós vendemos nosso sangue, nós gostamos de cantar 'inda nem estamos bêbados e o bar já vai fechar Nós fazemos edifícios e moramos na prisão Respeitamos o chicote e jamais dizemos não Nós estamos por aí, não queremos nem saber Nós estamos por aí, excrementos do poder Nas escolas nos ensinam como nós devemos ser Rabiscamos os banheiros e aprendemos o dever Nossa droga misturada, nosso prato de feijão Nossos dentes amarelos de açúcar e aflição Nossos ídolos de barro, nossos deuses de marfim A fumaça do cigarro passeando no jardim Nossos planos pro futuro, onde é que vão parar? Temos medo do escuro e a luz pode nos cegar Nós estamos por aí, nós queremos é viver Nós estamos por aí, excrementos do poder