O artista faz a arte como quem quase se atreve A consertar as linhas tortas onde Deus escreve O artista olha o pôr do sol e vê que é tão bonito Que o artista pinta o pôr do sol pra que o pôr do sol seja infinito O artista faz a arte como quem quase adivinha Que entre vida e arte não há mais do que uma linha O artista vê a lua que flutua à sua frente E o artista pinta a lua pra que a lua seja sua eternamente ( O artista, quase santo, quase louco, vê que o vento que só o artista pode ver, é quase assim um sentimento que faz o sol brilhar, acorda o mar e põe a Terra em movimento e o artista sabe, então, que sua vida é recriar esse momento) O artista faz a arte como quem se denuncia E assina o próprio crime de orgulho e poesia Sabendo que, afinal, a escuridão ficou pra trás Transforma o Verbo em arte e, o artista, não morre nunca mais