Prezado amigo, escrevo para esclarecer Que, mesmo antes de nascer, Meu coração se fez humano por ser suburbano E o HIV Deu positivo porque meus irmãos Padecem de doença igual E um degrau atrás de outro degrau Me leva de joelhos à igreja onde deus me diz Que o humano é estranho, sim, Porque é meu pai e, ai de mim, Nós nos desentendemos sempre E é assim que se faz Canções, escadas, catedrais Que depois não visitamos mais - dão de nós o melhor testemunho. Prezado amigo, eu vi sair do papel A pedra e o fogo que há no céu E tudo parecia letra de chorinho E então também chorei... Os meus avós e o pai são degraus Aonde eu piso em direção ao caos Mas posso ver na beira goiabeiras, Limoeiros, pés de sapoti E a penha volta aqui Feito o mito de uma ressurreição. A hóstia é pedra - hei de ralar!, A santa não pode cumprir o que não me crismar: O pai que eu amo não demora, A valsa chora e eu sei vou inventar Até que a própria virgem Mande eu descansar...