Trago a roupa tão larga e tão fora de moda
A viola afinada, mas tão longe da roda
A viagem marcada, o errado é a hora
E se a vida se acaba, sem amor

Tenho lábios mas onde eu compro um sorriso
Tanta fé nesse Deus, mas de pão eu preciso
Toda noite o meu sangue é doado às pragas
E se a vida se acaba, por tanta dor

Como gado em mercado, eu tenho meu preço
Pelo menos a vida, bem sei que mereço
E se ela termina sem ter um começo
Pois que é que me salva ou me vira do avesso

Eu também, como Cristo, já fui açoitado
Ou então, como Judas, estou perdoado
Já perdi companhia e ganhei inimigo
É que eu brinco com a vida, e ela briga comigo

Penitente ou demente, o que fiz foi tão pouco
Sou pedinte, indigente, o mais louco dos loucos
E se a roupa é surrada, é que a vida anda pobre
E por tantos pecados, não há quem me cobre