Alceu Valença

Canção do Espantalho

Alceu Valença


Quando o corpo vai pro lado
E vai pro outro coração
Cante que só passarinho
Jogue o corpo na canção
Ê boi
Que o coração vê caminho
E os pés se movem no chão
Ê boi

Sou cantador de Cajazeira
E vim cantar a minha gente
Gente que não foge do aço
Gente que não corre de macho
Nem de onça ou de mulher

Vem cantar a minha gente
Lá das banda de Cajazeira
Onde um coronel diz que é dono de tudo
Coronel Fragoso
Horroroso, viúvo, véio, barrigudo
Como dizia o bom Joaquim
Pelas ruas de Piancó
Fazendo chacota dele
Quando alguém dizia que em compensação
Ele tinha a casa mais bonita da cidade

Quero um cantinho nessa feira
Pra cantar a minha gente
Gente que não foge de fera
Gente que não corre de guerra
De arruaça e o que vier

E não foge tão pouco do Coronel Fragoso
De quem todo mundo corre
Ou quase se borra de medo
Quando ele vem subindo a jaqueira
Enfezado com a debandada de sua gente
Ou com a seca do Sertão

Quem quiser que venha ver os causos
Que eu conto com satisfação
Pra clarear as cabeça de bom pensar
Sobre os acontecidos em Cajazeira
Lá onde um coronel diz que é bom que só Deus
Porque dá metade pra quem planta e cuida do seu gado
Quem quiser que venha ver se tá tudo certo ou errado
Nos meus causo acontecido
Se gostar que faça uso e bom proveito
Se não gostar continue deixando tudo esquecido