Alceu Valença

Edipiana Nº 1 / Emboladas (pot-pourri)

Alceu Valença


Mamãe
Eu ontem passei mal
E me lembrei de você
Mamãe
Eu me lembrei de você
E gritei
Mamãe

E depois
O silêncio e a calma
Tomou minha cara
E eu me vi no espelho, mamãe

Ô mãe

Ô mãe, meu cabelo avoou
Meu pensamento mudou
Minhas marcas digitais
Sei lá, sei lá, mãe

Não se avexe em perguntar
Se eu gosto de você
Mando um beijo pra você
Mamãe

Ói, você pode acreditar
Que eu tenho quarenta irmão
Todos precisam do pão
E eu sozinho pra trabalhar

E outra que eu vou lhe avisar
É que eu tenho irmão pra danado
Tem Antônio e Eduardo
Oliveira e Baltazar
Tem Severino e Oscar
Tem Oscar e Severino
Apolônio e Agripino
Oliveira e tem Iaiá

Ói, tem menino em Gravatá
Vitória de Santo Antão
Caruaru, Ribeirão
Lá em Glória de Goitá
Tem menino no Pilar
Menino em São Caetano
E mamãe com cento e dez anos
Em dias de descansar
Ê, mãe
Como é que pode, mãe?

Mas você pode acreditar
Que eu tenho quarenta irmão
Todos precisam do pão
E eu sozinho pra trabalhar

E outra que eu vou lhe avisar
Que eu tenho oitenta irmão
Todos precisam do pão
E eu sozinho pra trabalhar

Mas outra que eu vou lhe avisar
Que eu tenho mais de um milhão
Todos precisam do pão
E eu sozinho pra trabalhar
Eu sozinho pra reclamar
Eu sozinho pra reclamar
Mamãe