Oi dá licença mainha Preu poder voltar Vou abrir mão dos receios Me debruçar no teu cheiro Quero voltar a caminhar Abença, ô barranco vermelho Abença, espinho traiçoeiro Abença, meu verdor queimado Horizonte esfumaçado Abença, rio acima De braços voltados pro céu Caminho a caminho de casa De braços voltados pro céu Caminho a caminho de casa Êa rainha Ê ê ê ê ê Terra rainha Ê ê ê ê ê Mata rainha Ê ê ê ê ê Salve a rainha Sigo de pé, sou pagã Enfrento o leviatã Trabalho junto à Lua e através das águas pra sanar Para sanar a dor Para não mais calar O meu rouco tambor Parem de nos matar Minha família é a terra Meu corpo é feito de terra E a terra também é minha deusa E com ela morrerei Eu ressuscitarei Quando um grande clamor Fizer teu peito arder Brotaremos do chão Tristeza de voltar pra casa E ver minha mata queimada ai ai Queimada parece dourada De ouro que rouba e que mata Que mata, que mata, que mata Garimpo, grilagem, facada não'ossanha que guardava a mata Perdoa, minha terra querida Meus braços se voltam pro céu Êa rainha Ê ê ê ê ê Terra rainha Ê ê ê ê ê Mata rainha Ê ê ê ê ê Salve a rainha E voltarei Junto ao grito que explode na margem da margem Tenho fome, febre e força Memória e coragem Pra não jogar o jogo que te faz necessitar Do plástico, o minério e a carnificina Vou ter braços de rio E no peito um Sol que arde no frio Vou abraçar tuas dores Vou lembrar teu destino De romper o cimento Quebrar o isolamento Plantar o alimento Que morreu Nós não esqueceremos jamais Mas também não faremos vingança Mãos que sangraram Trazem a dignidade de saber de onde se veio E só quem sabe de onde veio É capaz de reconstruir sua casa Em qualquer lugar Êa rainha Ê ê ê ê ê Terra rainha Ê ê ê ê ê Mata rainha Ê ê ê ê ê Salve a rainha Êa rainha Ê ê ê ê ê Terra rainha Ê ê ê ê ê Mata rainha Ê ê ê ê ê Salve a rainha Oi dá licença mainha Preu poder voltar Peço perdão por meus erros Por demorar tanto tempo Pra te ofertar meu cantar