Hei de achar meu coração Num acaso inconsequente Assentado num batente Agregado em qualquer vão Hei de ver na minha mão Nossas linhas se cruzarem Os destinos se abraçarem Nossos olhos se lamberem Nossas vidas se quererem Nossas almas se amarem Hei de ter o que não tenho Como quem te perdeu E no mundo se escondeu Não deixou nem o desenho Feito cana no engenho Sentimentos triturados Quem levou nossos recados Quem tirou você do eixo E deixou como desfecho Nossos corpos separados Hei de arder em fogo bento Hei de sublinhar as frases Das leituras que me fazes Pra dizer teus sentimentos Hei de sustentar os ventos que carregam seus olhares Hei de atravessar os mares Os de fora e os de dentro Hei de contornar o centro Magnético dos pulsares Hei de inventar lugares Pra te encontrar serena Hei de acompanhar novena Hei de frequentar os bares Hei de profanar os lares Hei de saquear o abrigo Hei de te colher no trigo Hei de te plantar semente Pra que voltes novamente Pra te ter aqui comigo Talvez o mundo nos guardou distantes Nestas curvas da vida, separados Tantas ruas apartam dois amantes Que não sabem que são dois namorados Desatinos, destinos enlaçados Adiando o encontro dos errantes Somos nós nesse mundo figurantes Com seus corpos e rumos aninhados Ali, ali atrás de uma montanha Há de ter uma alma tão risonha Que quer descanso, abrigo dentro e fora Um ser assim, tão ser singelamente Um passarinho que voa livremente Que dança, sonha, ama, canta, ri E chora